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A brincadeira o e desenvolvimento do cognitivo

Você sabia que a brincadeira é uma excelente ferramenta para o desenvolvimento cognitivo, social e motor para as crianças? Sim, e pensar que por muito tempo o ato de brincar, apesar de sempre ter feito parte da história da humanidade, já foi considerado perda de tempo! Para que as crianças possam compreender melhor as manifestações culturais, assim como construir o seu conhecimento é muito importante que elas tenham referências adquiridas através de brincadeiras como contos, cantigas de roda e demais acervos de brincadeiras. 

Mas por que essas atividades são tão importantes? Porque elas integram diferentes áreas de aprendizagem, desde a linguagem, até a natureza da sociedade com suas tradições e culturas presentes nas canções, por exemplo, e com isso, é possível auxiliar no desenvolvimento da identidade e autonomia do indivíduo.

Dada a importância da atividade, a incorporação pelos educadores em sala de aula irá fornecer subsídios para uma formação mais significativa para as crianças, pois irá ampliar o contato com o mundo da fantasia, do faz-de-conta, com o lúdico e com o próprio corpo, sendo uma importante maneira de estimular o pensamento da criança.

A brincadeira pode e deve acompanhar a rotina dos pequenos além do ambiente escolar! Seja em atividades extracurriculares, passeios, até mesmo durante uma consulta médica, cada oportunidade deve ser aproveitada para exercitar o brincar!

Através do lúdico, a criança repete os padrões absorvidos em sua rotina, já exercitando o treino para a vida, transformando em brincadeira aquilo que viu, ouviu ou vivenciou, e assim, auxiliando no próprio desenvolvimento cognitivo, social e motor. 

Qual brincadeira marcou a sua infância

Mas afinal, o que é Psicomotricidade?

Hoje este termo já nos é mais familiar, embora nem sempre seu conceito esteja claro. Até mesmo nas áreas médica, educacional e terapêutica sua definição parece não ser tão precisa. 

Este artigo tem como principal objetivo oferecer a você o conceito prático do que é a Psicomotricidade. Ao acordarmos pela manhã, para sentarmos, caminharmos, nos alimentarmos, praticarmos esportes, realizarmos atividades básicas de rotina, ou seja, ao executarmos todo e qualquer movimento corporal, necessariamente este movimento foi planejado pelo cérebro (sim, todos!). Chamemos a execução dos movimentos de MOTOR.

Nos dias em que estamos mais cansados, tristes ou até mesmo em estado de motivação e euforia, a qualidade destes movimentos se altera, podemos entender que há uma correlação entre nosso estado emocional e a forma como nos movimentamos. Chamemos a inferência emocional de AFETIVO.

Agora, quando aprendemos algo novo: quando desconhecemos por completo o assunto a assimilação do conteúdo habitualmente é um pouco mais lenta, ao passo que se é algo já familiar, amplia-se a rede de conceitos, resoluções e a compreensão do assunto tornam-se bem mais precisas, e isto ocorre em diversas e concomitantes “partes” neurológicas. Chamemos esta capacidade de assimilação e correlação das informações de COGNITIVO.

Estas três unidades  (cognitivo, afetivo e motor) trabalham em feedback constante umas com as outras, proporcionalmente e mediante à maturidade, ajustando-se mutuamente para a harmonia do sistema do indivíduo, sendo que cada uma delas possui milhares de variáveis.

Então a PSICOMOTRICIDADE compreende a capacidade de executar o movimento de forma coesa e precisa, desde seu planejamento até a sua realização, ou seja, é a correlação do COGNITIVO + AFETIVO + MOTOR. 

Quanto mais este sistema é retroalimentado, maior será o desenvolvimento em cada uma destas unidades, potencializando então a capacidade de gerenciamento delas; quanto melhor o gerenciamento, maior o refinamento, a precisão. 

O resultado disto é um indivíduo mais seguro, mais autônomo, com mais autoconhecimento e com melhor desempenho em sua comunicação.

E você querido leitor, como tem alimentado seu sistema?

A Psicomotricidade e o atendimento humanizado

P. em atendimentoQuero compartilhar um relato muito bacana envolvendo um atendimento a um paciente através da Psicomotricidade. O P. é um garotinho que teve um parto prematuro, possui microcefalia discreta, paralisia cerebral, e completou dois meses de tratamento.

Os relatos que recebi da mãe, e da enfermeira que o acompanha em tempo integral, é que através dos três pilares que envolvem a Terapia Psicomotora: Cognitivo, Afetivo e Sensoriomotor, o P. vem respondendo muito bem ao tratamento.

Ele ainda não possui domínio de movimento e postura com autonomia, porém vem demonstrando cada vez mais interesse pelas atividades, expressado em seu olhar, buscado conexão através do que chamamos de “diálogo tônico”, ou seja, linguagem não-verbal, além do fortalecimento muscular e melhora na capacidade de relaxamento.

Dentro de suas próprias possibilidades, ele se sente seguro e acolhido e, segundo a mãe do pequeno, a Psicomotricidade é a terapia na qual ele mais emite sons, relaxa mais ao término, pois demanda mais esforço físico de acordo com os estímulos apresentados. 

“A conexão gerada durante o tratamento, o olho-no-olho, o diálogo tônico é o que mais gera encantamento das famílias atendidas no consultório.”

 Através do olhar humanizado do atendimento, tudo muito lúdico e com planejamento adequado (em volume e intensidade), conseguimos excelentes respostas das crianças atendidas.

Os Neuroblocos Funcionais de Lúria

Para Alexander Lúria (neuropsicólogo soviético 1902-1977), as formas complexas de comportamento têm origem social, a partir da qual se desencadeiam processos que elaboram, armazenam e desenvolvem informações do mundo exterior e se programam e controlam ações que materializam intenções, obedecendo a uma organização estruturada, autorregulada e hierarquizada no cérebro. Assim cada processo de comportamento envolve um complexo sistema funcional baseado num plano ou programa de operações que conduz a um fim determinado. Desta forma, Lúria caracterizou o cérebro humano em três neuroblocos funcionais, dos quais dependem as funções que presidem ao trabalho do cérebro, implicando em todas as formas complexas de comportamento.

O primeiro deles relaciona-se ao tronco cerebral (mesencéfalo, ponte e bulbo) e particularmente à formação reticulada (que está dentro do bulbo), permite a manutenção da postura (tônus) necessária para o funcionamento das partes superiores do córtex cerebral, regula o nível de energia e o tônus do córtex garantindo-lhe uma base estável para a organização de seus vários processos, incluindo o da memória, funções de seleção e de vigília. Localiza-se no Bulbo o Centro Respiratório e Vasomotor (relacionado com ritmo biológico), fibras dos núcleos vestibulares (relacionadas com equilíbrio e a posição da cabeça). As áreas psicomotoras referentes são: tonicidade, equilibração, função de alerta. Estes dados permitem perceber a integração da postura e equilíbrio. O segundo está relacionado com as áreas posteriores dos hemisférios, córtex parietal, temporal e occipital. Encontra-se nas zonas posteriores do córtex (lóbulos occipital, temporal e parietal). Possui a funções específicas e hierarquizadas em zonas primárias e terciárias que compreendem a organização intraneurossensorial, interneurossensorial e é um complexo sistema de recepção, análise e planificação da informação que chega pelas vias táteis, auditivas e visuais.

As áreas psicomotoras referentes ao segundo neurobloco luriano são lateralização, noção do corpo, estruturação espaço-temporal.

Verificou-se que estas áreas psicomotoras encontravam-se também em déficit. Partindo do princípio de Lúria de que os neuroblocos seguem uma hierarquia, as intervenções englobaram também estas áreas psicomotoras para atingir o objetivo principal de equilíbrio postural e atenção. O terceiro neurobloco, relacionado com a parte anterior dos hemisférios principalmente o lobo frontal, proporciona planificação: programação dos movimentos e dos atos, a coordenação dos processos ativos (regulação) e a comparação dos efeitos das ações com as intenções iniciais (verificação). Possui funções de planificação, utilização e execução de praxias, intimamente relacionadas com as funções do tronco cerebral (atenção e concentração). As áreas psicomotoras referentes são praxia global e praxia fina. Todos os neuroblocos participam da atividade psíquica do indivíduo e na regulação de sua conduta; porém, a contribuição que cada um destes blocos realiza na conduta do indivíduo é muito distinta.

Referências: LÚRIA, Alexander Romanivich. Fundamentos de Neuropsicologia. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1981. MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. Rio de Janeiro – São Paulo: Livraria Atheneu, 1985.

Atenção e Aprendizagem

A Atenção é a manifestação cerebral do tônus. É a possibilidade de orientar a energia mental para determinado aspecto do real. Cognição é o ato ou processo de conhecimento, pelo qual a capacidade intelectual se expressa. Já a Escrita é uma representação gráfica da linguagem que utiliza signos convencionais, sistemáticos e identificáveis. Consiste em uma representação visual e permanente da linguagem que lhe outorga um caráter transmissível, conservável e veicular. A Formação Reticular, localizada no Tronco Encefálico, conecta-se ao cérebro, ao cerebelo e à medula. Ela é responsável pela regulação do sono, atividade dos motoneurônios (o que tem grande importância para a manutenção do tônus muscular) e também pela integração dos reflexos (do vômito, controle de respiração e controle vasomotor) que juntamente com o hipotálamo estão diretamente ligados a situações emocionais. Aqui evidencia-se a relevância no aspecto emocional em relação à manutenção do tônus e consequentemente ao controle motor. Considera-se que a atenção está ligada a funções de adaptação fundamentais como a função de vigilância e alerta relacionando-se ao primeiro neurobloco luriano.

Conservar a atenção sugere não só um controle inibitório, mas também uma tendência a integrar a informação, comprometendo todos os processos de comportamento que requeiram coerência, ordem e sequência de procedimentos não verbais como gestos e verbais como os símbolos, queixa relatada na anamnese e nos testes psicomotores da paciente. A função de vigilância se exprime corporalmente por um tônus muscular equilibrado que pode ser identificado na eutonia. A ação educativa em relação à atenção depende do trabalho corporal empreendido sob boas condições de relação entre o adulto e a criança, e a atenção da criança, no decorrer das situações-problema, estará centrada no objetivo a ser atingido, criando um “submodelo automático-reflexo” (controlado exclusivamente pelo córtex) em função do resultado obtido.

Assim a cognição mantém-se disponível para ajustar melhor as práticas às condições de desenvolvimento, ou seja, às atribuições espaçotemporais. Isto é o ajuste perceptivo motor e a criança passa do ajustamento global para o cognitivo, correlacionando informações interoceptivas com informações exteroceptivas (propriocepção). A programação motora inconsciente tornar-se progressivamente consciente pela solicitação da representação mental, da qual depende a evolução da representação corporal, daí a importância da noção corporal. É o ajuste postural solicitado no momento do aprendizado da escrita, que em condições estáticas corresponderá à etapa de organização inicial. A programação mental intervirá nos ajustes sequenciais e necessitam do encadeamento de práticas sucessivas, em ordem determinada e dentro de limite de tempo.

Essas experiências de ajuste a diferentes situações-problema provocam na criança segurança e confiança em si mesma, do que depende seu equilíbrio emocional e afetivo. É na origem “poder agir” que se constitui a imagem de si mesmo, em duas vertentes: a energética e a operativa, suporte para a autoconfiança. De acordo com estas informações, para a obtenção da atenção, é necessário primeiramente obter um controle tônico por meio de um trabalho relacional (psico) e corporal (motor). A educação da atenção é essencial e precede a todo o ensinamento e aprendizagem, e esta última por sua vez é um processo de mudança de comportamento obtido pela experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. A evolução da aprendizagem envolve fundamentalmente a necessidade de uma grande integração sensorial. Esta integração é elevada ao Sistema Nervoso Central, em que é organizada, armazenada, elaborada e reintegra os seus efeitos (feedbacks) para originar as respostas e as reações motoras. À medida em que a criança aprende qualquer aquisição, a estrutura psicológica e os arranjos dos substratos neurológicos mudam. Portanto, o cérebro e a motricidade estão em constante integração, que é fundamentalmente processada por meio de um constante diálogo entre o centro e a periferia, existindo entre eles um continente que é o corpo, que tem de ser organizado. O primeiro intercâmbio entre o bebê e seus pais ou responsáveis marca o modo de comunicação que ele vai adotar por toda a vida: é o primeiro passo da aprendizagem. Se for estimulado a observar e a imitar a si mesmo, aprenderá a conhecer e a diferenciar suas sensações. Quanto mais depressa surgir uma resposta a seu movimento, mais intensamente o bebê se conscientizará de que existem sinais interdependentes.

A criança aprende a comunicar-se somente pelo feedback que o meio (ambiente e família por exemplo) proporciona, gerando um sistema de intercâmbio, que ela mesma poderá acionar. A criança percebe que por meio de um sinal (movimento) pode expressar algo (comunicação), concretizando assim a aprendizagem. Por consequência, os seres humanos necessitam de oportunidades precoces para aprenderem no sentido de desenvolverem o seu máximo potencial; a privação de experiências motoras básicas pode prejudicar o desenvolvimento subsequente. As dificuldades de aprendizagens simbólicas (ler, escrever, cálculo) refletem sempre uma integração disfuncional por parte da criança das noções do corpo, do espaço e do tempo. Há autores que afirmam que as crianças com dificuldade de aprendizagem têm vários problemas atencionais, perceptivos, emocionais, de memória, de simbolização, e evidentemente de comportamento. Estas noções constituem as bases motoras das performances escolares e são imprescindíveis para a organização do seu sistema de aprendizagem. Para Piaget, para alcançar estas as aprendizagens simbólicas (verbais), a criança deverá vivenciar as aprendizagens não simbólicas (verbais), anteriormente já conseguidas, conservadas e consolidadas: posturas, desenhos, jogos, cantos, danças, músicas, rimas, parlendas, a partir das quais a introdução de novos elementos e variáveis permitirá então novas adaptações integradas, e consequentemente novas aprendizagens. A incorporação dos símbolos, por sua vez, só é possível por meio da motricidade da criança. É com esta experiência motora que a criança irá construir imagens, esquemas e formas de pensamento baseadas na incorporação de dados sensoriais e na antecipação de dados motores.

Referências: HAMZE, Amélia. O que é Aprendizagem? Disponível em: <http://www.educador.brasilescola.com/trabalho-docente/o-que-eaprendizagem.htm>. Acesso em 12/01/20210. FONSECA, Vitor da. Manual de Observação Psicomotora- Significação Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. São Paulo: Artes Médicas. 1995. LE BOULCH, Jean. O corpo na escola no século XXI: práticas corporais. Phorte. São Paulo, 2008. LÚRIA, Alexander Romanovich. El Cérebro Humano y los Processos Psíquicos. Fontanella. Barcelona, 1979.

LÚRIA, Alexander Romanivich. Fundamentos de Neuropsicologia. Universidade de São Paulo. São Paulo, 1981. LOUREIRO. Sistema de Avaliação em Psicomotricidade – Manual do Exame Psicomotor. São Paulo: ISPE-GAE. 2008. MACHADO, Angelo. Neuroanatomia Funcional. Rio de Janeiro – São Paulo: Livraria Atheneu, 1985. MOLCHO, Sami. A Linguagem Corporal da Criança: entenda o que ela quer dizer com gestos e sinais. São Paulo: Gente, 2007.